domingo, 12 de agosto de 2007

Quase um poema de amor


Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor.

E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

A nossa natureza Lusitana

Tem essa humana Graça Feiticeira

De tornar de cristal

A mais sentimental

E baça Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo

E ninguém me deseje apaixonado,

Ou que a antiga paixão

Me mantenha calado

O coração

Num íntimo pudor,

---

Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor


MIGUEL TORGA

12 comentários:

MIMO-TE disse...

Também me parece. Eu espero ansiosamente por ele.

mimo-te

Cleopatra disse...

É um dos poemas mais bonitos ou dos mais bonitos do Torga.
Engraçado, eu escolhi um,.. Alguém que comenta o meu blog outro que tu comentaste e tu, escolhest este.
Provavelmente cada um de nós escolhe aquele que mais lhe diz algo ao coração ou à alma...

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
----

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
---
Alguém que te ame ou ama deseja-te sempre apaixonado.
EScreve-lhe um poema de amor.

Ni disse...

Sem comentário...

.Não tenho mais palavras.


Gastei-as a negar-te...


(Só a negar-te eu pudesse combater


O terror de te ver


Em toda a parte.)



Fosse qual fosse o chão da caminhada,


Era certa a meu lado


A divina presença impertinente


Do teu vulto calado


E paciente...



E lutei, como luta um solitário


Quando alguém lhe perturba a solidão.


Fechado num ouriço de recusas,


Soltei a voz, arma que tu não usas,


Sempre silencioso na agressão.



Mas o tempo moeu na sua mó


O joio amargo do que te dizia...


Agora somos dois obstinados,


Mudos e malogrados,


Que apenas vão a par na teimosia.



Miguel Torga


Antologia Poética


Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999

..

Poesia Portuguesa disse...

"Água, sal e vontade — a vida!
Azul — a cor do céu e da inocência.
Um lenço a colorir a despedida
Da galera da ausência...

Mar tenebroso!
Mar fechado e rugoso
Sobre um casto jardim adormecido!
Mar de medusas que ninguém semeia,
Criadas com mistério e com areia,
Perfeitas de beleza e de sentido!"

(Excerto, poema de Miguel Torga, in Odes,(1946)


Eu escolhi este...

Um abraço ;))

Azul disse...

Escolhi este...

"Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,

e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono das minhas horas
O dos facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.

E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!"

Miguel Torga

Beijo
Azul

MIMO-TE disse...

Olá!

O nosso mestre lançou um desafio, que eu decidi aceitar, escolhi-te por isso pfv passa no meu blog e bom trabalho.


mimos para ti

Cleopatra disse...

Ufff Pecador.Alguém aqui te ofereceu a redenção.

Cleopatra disse...

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!"

Miguel Torga

Não resisti!

Anónimo disse...

.. já nem sei esperar

o que sempre vem por engano...

Beijo e b domingo*

Anónimo disse...

aH, gostei da foto.. ;)

Cleopatra disse...

Quanto à foto, algo me diz que a tua alma é igual à dele.

Gasolina disse...

Belissima escolha e bonito tributo neste centenário do seu nascimento.

Um beijo