domingo, 29 de junho de 2008

Onde andas?....Dá-me a tua mão. Pensas em mim?

segunda-feira, 23 de junho de 2008


Sinto-me angustiado









Não me concebo amando, nem dizendo
A alguém "eu te amo" — sem que me conceba
Com uma outra alma que não é a minha
Toda a expansão e transfusão de vida
Me horroriza, como a avaro a idéia
De gastar e gastar inutilmente —
Inda que no gastar se [extraia] gozo.


XV
Quando se adoram, vividos,
Dois seres juvenis e naturais
Parece que harmonias se derramam
Como perfumes pela terra em flor.

Mas eu, ao conceber-me amando, sinto
Como que um gargalhar hórrido e fundo
Da existência em mim, como ridículo
E desusado no que é natural.

Nunca, senão pensando no amor,
Me sinto tão longínquo e deslocado,
Tão cheio de ódios contra o meu destino. —
De raivas contra a essência do viver.


XVI
Vendo passar amantes
Nem propriamente inveja ou ódio sinto,
Mas um rancor e uma aversão imensos
Ao universo inteiro, por cobri-los.


XVII
O amor causa-me horror; é abandono,
Intimidade...
... Não sei ser inconsciente
E tenho para tudo [...]
A consciência, o pensamento aberto
Tornando-o impossível.

E eu tenho do alto orgulho a timidez
E sinto horror a abrir o ser a alguém,
A confiar n’alguém. Horror eu sinto
A que perscrute alguém, ou levemente
Ou não, quaisquer recantos do meu ser.

Abandonar-me em braços nus e belos
(Inda que deles o amor viesse)
No conceber do todo me horroriza;
Seria violar meu ser profundo,
Aproximar-me muito de outros homens.

Uma nudez qualquer — espírito ou corpo —
Horroriza-me: acostumei-me cedo
Nos despimentos do meu ser
A fixar olhos pudicos, conscientes.
Do mais. Pensar em dizer "amo-te"
E "amo-te" só — só isto, me angustia...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Senti o teu apoio ao meu lado
Nesses dedos esguios e pequeninos que dedilharam mensagens rápidas durante a crise
Num súbito repente fui ao teu encontro
Num passe de mágica surgiste ao meu lado.


Há muito não te beijava com o desejo e o sabor com que o fiz naquele pedaço de noite
Uma noite sem lua, cheia de manhã e de sóis a transbordar de calor.
Pedi-te para mim
Prometes-te
Disseste o dia e a hora
A noite e o dia
Vieste

Fugi
Esperei
Desejei
Desisti.

-
PTM

terça-feira, 3 de junho de 2008


"Cão sem dono
Até na própria cama em que me deito."

Ary


Doi-me a noite no corpo.
Já sei que pelas três horas me vai sufocar a alma.
Tenho uma almofada baixa na cama e do outro lado o espaço que poderia ser o teu.
Deixo a persiana toda puxada para cima para que a presença da rua me entre no quarto bem cedo.
Também cedo me resguardo no escuro do quarto não querendo pensar e adormecendo embrulhado muitas noites em imagens tuas.
Tenho medo de enlouquecer.
Não sei sorrir nem já quase consigo chorar.
Deixo a noite entrar no quarto e ela vem deitar-se ao pé de mim no espaço que poderia ser o teu.
Adormeço contigo nos meus olhos.
Amanhã o dia grita-me para que acorde e eu vivo à espera da noite em que durmas ao meu lado.

-.

PTM